Tuesday, December 19, 2006

No picadeiro e na platéia

"Lança lá e vamos ver o bixo que vai dar!" Essa parece ter sido a lógica que moveu esse aumento de quase 100% dos parlamentares. O pessoal nunca teve vergonha na cara mesmo, qualquer um sabe que a ética que move essa gente é própria, não segue os padrões aceitos pelos "comuns dos mortais". Estamos com nossos valores tão abaixo do mínimo aceitável, o jogo jogado é tão sujo, e depois de todas essas inocências declaradas em meio a tanta podridão, que os nossos parlamentares perderam definitivamente o senso, até mesmo o do ridículo.

Nossa população é cá tomada como pamonha, débil mental, gente que não sabe a que veio. Eu sei de onde eles puxaram essa idéia, as últimas eleições pode ser uma pista para se encontrar a origem. Quem vê a foto do nosso povo, da nossa gente que vai as urnas aos milhões se apavora do visto, e mais, do não visto, do pressentido.

A mídia funciona como um último bastião: diz assim sim, mas assim também não. Faz um charminho e gera notícia. Nada que mude os pilares, o alicerce onde se funda o picadeiro, não se enganem: o circo continua com a lona armada e o show não vai parar. Quem assiste ao espetáculo pela primera vez talvez estranhe pelo fato dos palhaços não estarem no picadeiro. Reparem bem na platéia! Viram aonde eles estão?

Tuesday, December 05, 2006

Janelas e Olhares

Eu escrevia há pouco um post sobre olhares, não estava, portanto, muito longe das janelas. Esse meu encanto por janelas talvez venha da forma como elas costumam capturar o mundo lá fora, assim, pode-se dizer que tudo o que se enquadra no esquadro da janela ganha um certo destaque. A janela funciona como uma espécie de filtro do nosso olhar, limitando temporariamente, nos entregando um pedaço do mundo para a nossa observação.

O observador é a figura chave de todo o processo, é ele, é dele o olhar que valoriza essa imagem que perpassa através das janelas. A beleza estampada numa janela e não capturada por um olhar se perde, se esvai, é inútil, como um desperdício de poesia, música que ouvidos não ouvem, um doce aroma que o olfato não percebeu.

Desculpem, eu sinto muito não ter o dom que permitiria transformar esse olhar, esse ver em arte. O que me resta é procurar narrar com alguma fidelidade as emoções que me perpassam ao ver o modo como as janelas mostram o mundo.

Sunday, November 26, 2006

Estereótipos

Eu posso afirmar que tenho uma opinião estereotipada sobre moda: não gosto. Eu explico as minhas razões: não gosto de ninguém me dizendo o que eu devo ou não usar ou vestir; os conceitos de estar na moda ou fora dela eu, pessoalmente, não os considero válidos; não há como negar a influëncia comercial por detrás desse conceito de moda - as modas vão e voltam só para obrigarem as pessoas a comprarem; como exigir que uma pessoa que luta desesperadamente pela sobrevivência vá se importar ou considerar essa idéia de “andar na moda”?; você, é claro!, vai me dizer que moda é para quem pode, náo para quem quer. Eu digo que desse tipo de pensamento o mundo já está cheio! Ser desumano nesse mundo é mato.

Agora a imprensa descobriu que morrem pessoas no país com anorexia, bulimia. Não sei dizer até que ponto essas mortes estão relacionadas com o padrão de beleza imposto pelas famosas agências de modelos e os profissionais que trabalham com a moda. Perdoem-me, sei que muita gente depende da moda para viver, mas existe também muita futilidade, e muita bobagem nesse meio. Não pense que não possuo nenhum senso estético, sei apreciar qualquer coisa bem feita, ainda assim, entendo que existe muito exagero envolvido no setor.

Diga-se de passagem, isso não é uma exclusividade da moda, existem outros setores onde também são evidentes os exageros, mas ser como os outros não é perdão nem desculpa, seja para partido político, seja para atividade profissional fútil e exagerada. Independente da moda, que é uma das formas, senão a principal forma de ditar tendências e comportamentos, sei que essas doenças comportamentais possuem existência independente, assim, é um exagero vincular todos estes eventos tragicos somente com a moda.

Friday, November 17, 2006

Definições

Nosso país ainda tem a cara de pau de fazer piada com outros países, com outras nacionalidades. Vejam mais essa: Foi criada uma comissão de alto nível - como se existisse alguma de baixo nível! - para apresentar soluções para os atrasos nos embarques nos aeroportos brasileiros. Composta pelos ministros da defesa e da aeronáutica, ainda tem entre seus membros autoridades da aeronáutica civil, Sindicato do Controladores de Vôo, etc.

Na sua primeira reunião, como não poderia deixar de ser, a comissão resolveu definir, pra começo de conversa, o que era atraso. Sim, porque existem atrasos e... atrasos... Não vá pensar que atraso é, como se costuma definir com inocência, tudo o que acontece depois de um horário programado. Não! Absolutamente! Você não pode raciocinar tão simplistamente assim!

A comissão definiu que atraso de vôo, é algo que acontece só depois de 45 minutos de ATRASO. Extamente isso! Até 45 minutos de atraso, não é atraso. Estou esperando pela portaria. Art. 1º Fica decidido que um atraso de 45 minutos na saída dos vôos não será considerado um atraso. E revogam-se as disposições em contrário!

Sunday, November 12, 2006

Rei Sem Reino

Rei Sem Reino
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Olhos, dizem os poetas
São janelas da alma
Duas pequenas amêndoas,
Onde entrastes por elas

Ocupas meus pensamentos
És parte do meu sonhar
Um princípe desencantado
Que se achou ao te olhar

Teus olhos, minha amada
São gotas de puro cristal
Em que recebo refletida
A prata que vem do luar

Nessa vida eu terei tudo
Tudo que um dia sonhei
Contigo, minha princesa,
Reinarei até sem ser rei
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Copyright - 2006 Ronaldo Souza

Wednesday, November 01, 2006

Busca

Vocês podem até não acreditar, mas eu tento, faço o possível para estar mais amiúde debruçado nesta Januella. E não consigo. Ah! Contrasenso, os meus desobrigados afazeres estão sempre a me obrigar! Começo errando, na base, tento abraçar o mundo com mãos e braços demasiados curtos: -Fossem um pouco maiores e eu estaria jogando basquete.

Ficar debruçado no Januella é coisa de bisbilhoteiro, querer acompanhar de camarote a vida passar. Melhor estar no palco das ruas, ser um dos atores, um figurante, uma das personagens passantes. Esta também é a atividade do cronista do cotidiano, daquele que vê a vida passar; mas quem disse que é preciso parar para se observar melhor?

Fosse assim e o repórteres estariam fadados a não serem os garimpeiros das notícias. Eles andam, buscam com seu movimento a notícia. No fim tudo é uma questão de ponto de vista - lato sensu...

Saturday, October 21, 2006

O paraíso das carnes

O repórter entrevista o mecânico de uma das equipes da Fórmula 1; pergunta-lhe o que mais o atrai no país. Ele não vacila, responde: - Churrascarias e mulheres. Sem saber - ou, imagino, sem pretender, fica num mesmo assunto, carne e carne. Carne viva, carne morta, mas tudo girando nos prazeres da carne. Será o melhor do segundo para o primeiro mundo?

Continuamos sendo uma espécie de paraíso exótico? Nossas belas mulheres, e a comida saborosa, prazeres apetecíveis a qualquer um - ou a quase todos, não necessariamente nessa ordem, eis que o ianque lembrou primeiro das churrascarias - tudo bem, talvez para primeira buscar forças, buscar energias e poder enfrentar o segundo petisco: as mulheres.

Continuo sendo um dos que protestam contra este tipo de preconceito. Não fico nem um pouco satisfeito que sejamos olhados como nacos, pedaços de carne.

Saturday, October 07, 2006

Voltando...

Estou retomando aos poucos os meus blogs. Andei fazendo bobagem, numa tentativa de upgrade do sistema do meu pc - sem fazer o prévio e indispensável backup, é claro! - deu zebra. Fiquei perdido sem os meus arquivos e estou tentando juntar os pedaços do que restou num novo pc - para ver como a coisa foi grave!

Mas aos poucos vou voltando... Até breve!

Monday, September 18, 2006

Concessões

Querer que a justiça atinja a todos é quimera. Espero que o povo não viva nessa - eterna - espera. Classe engajada essa dos artistas. Vivem a proclamar a todos os ventos, nos grandes enventos - patrocinados com leis de incentivo à cultura, com dinheiro do povo, um ausente nos caros espetáculos, musicais, teatrais, dirigidos a uma classe social mais elevada - coisa digna de colunistas sociais, do grande capital.

Como sempre, o dinheiro do meu imposto - que financia ricos e pobres - a mim pouco ajuda. Entra num funil que o consome na burocracia dos gabinetes palacianos recheados de incompetências e excelências - em que mesmo?

Saturday, August 19, 2006

Os dias passam

Fisoficamente. Sem muita filosofia. Com vã filosofia. Ou só engulindo. De que vale filosofar sobre o insofismável, o inevitável, o inadiável, o irrecorrível, o impossível? Não falarei sobre o tempo que passa ou que passou e passará. Deixar o tempo passar sem falar. Nele. Passar o tempo ou deixá-lo amontoado, num canto, amarrotado, desperdiçado. Esse ente mortal, irreciclável, irremediável, irretornável. Foi bom? Não sei ao certo, eu diria passável...

Sunday, July 30, 2006

Trem do amor

Eu fico assim quietão, parado e temeroso de fazer a pergunta que não quer calar. Quando foi mesmo que nos amamos, esse tanto ou muito mais? Ou quando foi que eu falei em te amar? Talvez eu fale demais, talvez eu fale demais em amares nos meus versos, nos meus cantares. Eu sei que temerário nesse mundo carente, não preparado para tanto amor, jogado e inominado. Logo vem alguém e dele se apropria, como se dele fosse, como se a ele fosse todo dirigido. E depois, de assim bem digerido nunca mais quer devolver.

Meu amar é assim, não exclusivo, não conclusivo, não egoísta. Não insista! Prefiro um amor idealista, fraternal, não quero ser o único a te amar, a te gostar. Acho bom que te amem, todos quantos possam e queiram, que de ti gostem, e que te queiram, todos quantos muito bem!

Que seja um trem! Muitos vagões de amantes, uma linha de bemquerentes, que em cada olhar se veja um grande amar, em cada mão a te afagar, pois de ti gostar é tão fácil como fácil é amar e querer bem a um alguém. Tenho amar, tenho amares, um coração grande e cheio, tranbordante... a te esperar...

Thursday, July 06, 2006

Conversa mole

Lembram daquela conversa mole do presidente dizendo "nós vamos cortar na própria carne"? Agora leiam essa notícia:
"São Paulo. O Partido dos Trabalhadores paulista confirmou que tentará reeleger todos os deputados federais da legenda acusados no escândalo do mensalão. São eles: o ex-ministro Antonio Palocci, envolvido na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa; os deputados João Paulo Cunha, José Mentor e Professor Luizinho, investigados pela Procuradoria Geral de Justiça; e o ex-presidente do PT, José Genoino, que havia renunciado ao cargo de direção do partido nas investigações sobre o valerioduto."
O que isso quer dizer? O reconhecimento de que tudo não passou de um jogo de cena. O partido, Lula, todos sabiam perfeitamente do que se praticou, todas as maquinações tramadas para se perpetuarem no poder, criaram, engendraram esse mensalão e agora estão acolhendo aqueles que "tomaram na cabeça" para livrarem a cara do presidente. Cortar na carne? Tsc...

Thursday, June 22, 2006

Estava à toa na vida

E acabei vem a maioria desses jogos da copa do mundo de futebol na Alemanha. Divertido, pode-se dizer que é divertido acompanhar os jogos sem essa flama nacionalista que se tenta incutir aqui no país - e nos outros países também. Vejo o futebol pelo futebol, sem me importar com o adversário, preocupado só com o espetáculo.

Faço isso porque não acredito no valor intrinseco dessa copa do mundo. Qual o valor dela? Prova o quê? Que somos melhores do que alguém no futebol? Sim... mas e daí? Dai nada, não é mesmo. Ser primeiro no futebol tem tanta importância quanto ser primeiro no tênis de mesa, no ping-pong, no futebol de botão, enfim, não tem importância nenhuma.

Como eu disse, não que nós ou os outros países não atribuam importância a isso. A inflexível (?) França quase veio abaixo quando ganhou a copa de 1998. Eu não me importo, para mim tanto faz como tanto fez.

Wednesday, June 14, 2006

Janelas vazias

Pois as janelas ficaram vazias na hora do jogo, todos estavam dentros das casas, concentrados para a partida inaugural da seleção. Interessante notar o nível de envolvimento da nossa gente com o futebol. Dizem que os outros povos também são assim. Acredito, basta lembrar dos franceses enlouquecidos com a conquista do Campeonato Mundial de Futebol em 1998. Qualquer disputa "entre nações" aflora os sentimentos nacionalistas, onde "ganhar dos outros é algo importante, fundamental".

Eu acho que nós somos exagerados em algumas coisas. Somos passionais, mas nos interessamos só por algumas coisas, para as outras não damos pelota. Não é só o futebol, onde somos considerados o "país do futebol", mas no samba, no carnaval, nas novelas. Não temos a mesma, nem mesmo a metade do interesse, quando está em jogo os nossos destinos políticos, as coisas que efetivamente mudam a nossa vida.

Todos preocupados com os craques milionários do futebol, com os astros milionários das novelas, ou com os cantores. Todos pobres, paupérrimos, todos juntandos seus míseros reais para comprar o ingresso, ajudar a escola de samba - chegamos a associar o termo "escola" à música! -, comprar o cd, tornando mais milionários os milionários. Coisa de brasileiro, não há como mudar...

Tuesday, May 30, 2006

Atrás das grades

Confesso que, não por culpa da natureza, praticamente imutável e que só reage às agressões que lhe desfere esse animal irracional chamado homem, cada vez mais nos sentimos compelidos a fechar as nossas janelas para o mundo. Ou, para sermos mais realistas, isso é só a constatação de um processo que já vem ocorrendo a cada dia e há muito tempo.

Ninguém pode negar que quase inexistem janelas sem grades nas nossas casas hoje em dia. Pior, já habituamos o nosso olhar a elas, e vemos através dessa nova realidade, a imagem que se forma além e composta com esses casulos de ferro é natural. O mundo lá fora é multifacetado, como se o olhassemos com o olhar composto dos insetos. Inúteis grades: tentativa de manter a maldade lá fora sem impedir que alguma beleza entre aqui dentro.

O nível dessas maldades que se vê no mundo é cresce a cada dia, já são tantas as formas de agressão, que você busca se refugiar num outro mundo, torna-se priosioneiro de um pequeno mundo, forma um microcosmo onde se protege, se isola, e passa a viver uma vida artificial em relação ao mundo lá fora.

Enquanto isso, nós imaginamos que estamos separando os criminosos dos cidadãos, mandando-os para trás das grades. Quem está atrás das grades?

Tuesday, May 16, 2006

Sanguessugas.

Eu estava lendo sobre sanseguessugas, esses animais nojentos que vivem às custas dos outros, esses parasitas, esses vermes.

Saturday, May 13, 2006

Recontar a história

Muito tempo sem atualizar o meu Januella, muito tempo sem aparecer por aqui. Volto no dia em que se comemora a aparição de Nossa Senhora de Fátima aos pequenos pastores na Cova da Iría em Fátima, Portugal. Prefiro não falar nas outras efemérides da data, eis que os próprios celebrados preferem não comemorar o feito histórico, numa atitude que já está se tornando normal em nosso país: quando a história não nos agrada do jeito que ela aconteceu, é fácil, muda-se a história.

Reescrever a história virou mania nacional e, de 1964 para cá todos se tornaram especialistas nisso, doutores nessa matéria. Acaba funcionando, como se diz, uma mentira repetida milhares de vezes vira uma verdade, uma verdade que acaba se criando, algo assemelhado ao que se viu no filme "Uma história oficial", um conto de fadas que agrada aos gregos, já que os troianos destronados não podem reclamar de nada.

Depois, nós vivemos em tempos que a ditadura do politicamente correto se impõe, e se impõe até sobre a verdade, ou seja, se a verdade é politicamente incorreta, mude-se a verdade!

Tuesday, May 02, 2006

Janelas diferentes

Hoje o mundo possui janelas diferentes para o mundo, não são mais as tradicionais venezinas que se abrem para o mundo. As janelas de hoje são tecnológicas, cabem na tela de um televisor, na tela de um computador, na tela de um telefone celular. Confesso que não gosto de celulares - Santa hipocrisia, Batman! -, mas reconheço o grande avanço nas telecomunicações que estes pequeninos nos proporcionaram.

Neste contexto este meu blog é um saudosismo, uma volta ao passado, ao passado em que a vida ainda passava nas janelas tradicionais. "Não se vê mais a moça bela na janela, não há mais o seu olhar para o mundo, nem o do mundo pra ela." Eu sou um pouco assim, contraditório, gosto dos computadores, do conhecimento que ele nos proporciona, do poder na utilização da rede, da internet, mas não esqueço da bela moça na janela:

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"Ó linda, não sei teu nome
És uma bela inominada
Que cativou o meu olhar
Sem saber, a minha amada"
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Copyright 2006 © - Ronaldo Souza

E assim vou, com as janelas dos olhos, vivendo e vendo, alternando entre as janelas com que o mundo vejo, conservando na memória as venezianas da infância, pelas quais passaram tantas meninas bonitas, e descortinando essas novas tecnológicas e metafóricas janelas, por onde ainda continuam a passar as meninas bonitas, até o dia em que o Pai resolver fechar para sempre as minhas janelas da alma.

Thursday, April 27, 2006

Legitimidade

Lembro do início da guerro do Iraque, quando amigos brasileiros que moram nos Estados Unidos defendiam com unhas e dentes o governo Bush. Não havia argumento, explicação, lógica, ou o que quer que fosse que fizesse que o pessoal que mora lá abrissem os olhos e vissem a realidade: o governo Bush enfrentava uma crise de legimitidade, com o atentado de 11 de setembro, sem que achassem um inimigo para massacrar, resolveram unir o útil ao agradável - a intervenção no Iraque servia para arrumar uma guerrinha tão ao gosto do povo americano, uma forma de vingar o 11/09 (embora com o inimigo errado), e invadir uma nação rica em petróleo.

Agora se avizinha uma nova crise, estamos às vésperas de um novo enrosco, dessa vez com o Irã. Um lado dizendo que o uso de urânio é para fins pacíficos, o outro dizendo que o interesse é desenvolver aparatos bélicos nucleares. Fica muito difícil de se julgar quem tem razão na questão, principalmente quando um dos lados, o lado que detém o maior arsenal nuclear do mundo, se arvora a ser um dos únicos com o direito de possuir este tipo de arma.

Essa coisa do Eua se arvorarem em polícia do mundo não sei se vai dar em boa coisa.

Monday, April 17, 2006

Olhando a banda passar

Fiquei pensando em alguém na janela vendo a banda passar. Hoje em dia as bandas não passam mais; ainda existem bandas hoje em dia? Não falo nessas bandas militares, nada contra elas, mas elas me parecem muito formais, são o que são, militares; falo daquelas bandas municipais que tocavam nos coretos da praça principal das cidades do interior. A imagem é bucólica, saudosista, coisas das memórias dos tempos da minha meninice. Convivi com essas bandas, que passavam, com os coretos, com música na praça aos domingos e feriados, com a vida da cidade do interior; que não tinha "movimento", tinha qualidade.

Hoje vivo numa cidade grande, vivo no movimento; onde milhares de pessoas vem e vão, desconhecidos que passam sem deixar saudade. Não passam mais bandas, não existem mais bandas, não existem coretos, só restaram as memórias guardadas disso tudo, das moças nas janelas; hoje as pessoas não ficam mais em janelas, elas ficam com outras pessoas, que não ficam, também vão, passam, sem deixar saudade. Hoje está tudo muito mudado, transformado, a única coisa que não mudou foram as saudades, as memórias.

Friday, March 31, 2006

Janelas

Janelas são aberturas para o mundo, onde a vida entra e sai. Janelas rompem o nosso isolamento, são hiatos das paredes. São vias de duas mãos onde olhares vem e vão, cruzam e, às vezes, colidem. É quando um olhar olha um olhar a olhar pela janela. Olhares medem, examinam, avaliam. Olhares imaginam, sonham, profetizam.

Janelas são, antes de tudo, não seres, o nada exaltado em toda a sua importância. O todo que passa a ser uma possibilidade pelo não ser. Ah! Poéticas janelas! Comunicação dos mundos, público invadindo o íntimo; íntimo se expondo ao mundo. Janelas belas, delas, que nelas perpassam toda a cor dos olhos.

Wednesday, March 22, 2006

Os serviços meia-boca

Fico olhando com tristeza para os campos onde "deveriam" estar as imagens nesse blog. Resolvi me associar a esses serviço que oferecem hospedagem gratuita para imagens, como uma forma de não sobrecarregar os arquivos aqui do Blogger - até porque não se tem um gerenciamento correto sobre a quantidade de imagens que são permitidas.

Agora você carrega o blog e aonde estão as imagens? Ninguém sabe, ninguém viu. A verdade é que funciona muito bem aquela tese sobre os serviços gratuítos nos quais, com honrosas exceções, você obtém o serviço justo por aquilo que você pagou. Ou seja, você não pagou nada e vai obter... é, isso mesmo, nada. Não se pode exigir nada do nada.

Fica uma única dúvida nisso tudo, embora essa minha dúvida já esteja respondida naquele milhão de cláusulas com as quais você adere ao se inscrever num serviço desses: ninguém é obrigado a oferecer nada de graça para ninguém; seria de supor que se está oferecendo é porque têm condições para fazê-lo com uma qualidade aceitável.

Friday, March 17, 2006

As Janelas nas manhãs

Todas as manhãs as janelas se abrem, como se dissessem: aqui estou! Pronta para mais um dia, já podeis entrar mundo! Se abrem para o jogo da vida, porque quem as habita vivos estão! Fico pensando nas janelas que não se abrem, que passam as horas e não vem a mão para abri-las ao mundo. Permanecem mortas. Permanecem mudas. Permanecem fechadas. Muitas vezes para sempre.

Monday, March 13, 2006

A Moça na Janela II

Vejo a moça na janela, uma bela contemplar o mundo. Debruçada na veneziana amarela, encanta quem passa por ela. O mundo também contempla a beleza que lhe faz ser menos cruel. Um canteiro de açucenas enfeita e valoriza o enquadramento do quadro. Sou sentinela fiel, que ao longe guardo a bela contemplativa. Que sabe a donzela de mim? Que só tenho dela a visão, a estampa da moldura dessa pequena janela. Não sorri ela pra mim, sorri a quem passa por ela. Não está ali por mim, está para enfeitar a viela. E a vida segue assim, ela sem saber de mim, eu só cuidando dela.

Sunday, March 05, 2006

Friday, February 24, 2006

A Moça na Janela

Todos os dias em que eu passava por aquela rua, ela estava na janela, moldura perfeita para a beleza, ou a beleza emoldurada, retratada, personificada. Ela não me reconhecia como gente, melhor dizendo, não posso dizer o que ela pensava porque ela não demonstrava perceber a minha existência nesse mundo. Aparentemente eu representava menos do que um dos paralelepípedos que serviam de calçamento para a rua onde se situava a sua janela.

A bem da verdade devo confessar que eu não fazia nada de excepcional para chamar a sua atenção. Quero dizer alguma momice, ou qualquer outra coisa estúpida ou fora do comum. Eu só interpretava o meu papel de passante, isto é, eu passava, a minha ação se resumia em passar por ela. Eu era um ser passante. Ela, por sua vez, era um ser ignorante, ou seja, sua única reação era a de não ter reação alguma, ela me ignorava total e cabalmente.

E assim o tempo foi passando, eu também fui passando, e ela também continuou me ignorando. Até que um belo dia, e devo dizer que este "belo dia" é só uma expressão de retórica, porque não lembro exatamente se era um dia bonito ou não, acho que ao menos não estava chovendo, ocorreu um fato inusitado durante uma dessas minhas passagens por ela - que até então me ignorava. Ela me olhou e disse: - Oi!

Devo confessar que fui pego totalmente de surpresa, eu poderia esperar tudo, que o céu caisse, que anoitecesse de dia, ou que aparecesse um dragão voando, por exemplo, mas aquele "oi" foi totalmente inesperado e desconcertante para mim. Primeiro porque ela finalmente notara a minha existência nesse mundo, segundo porque além de reconhecer a minha existência ela havia dirigido a palavra para mim, dissera "oi".

Fique entre perplexo e embasbacado, sem saber o que dizer, tentei puxar um ar do fundo do pulmão e dizer um "oi", que seria a resposta mais simples, mais direta, mas nem isso saiu. Após alguns breves instantes, desesperado, sem saber o que dizer, saí em disparada e nunca mais passei pela rua. Da moça da janela? Não sei dizer, aquela foi a última vez em que a vi na vida.

Wednesday, February 22, 2006

A moça na janela

Vejo a linda moça na janela a olhar pro mundo. Não sei se é ela quem olha pro mundo ou se é o mundo quem olha pra ela. Vê o mundo a moça na janela a olhar pra si. Nessa troca de olhares, nesse vejo que eu te vejo também, a moça vê a todos no mundo e o mundo vê a moça na janela também. A moça na janela é uma bela a enfeitar o mundo. O mundo, que também fica mais belo porque uma moça bela na janela fica a olhar pra si. Eu vejo a ela, e vejo mais, vejo a importância de uma moça bela na janela.
(Leia acima o meu conto "A moça na janela")

Januella

Januella é janela em latim, o nome que eu queria para esse blog, difícil de ser conseguido no Blogger, pois aqui quase todos os nomes já estão tomados; mas isso é so um detalhe sem importância, importante é o conteúdo, importante será o conteúdo desse blog. Escolhi Januella porque as acho poéticas, abertas para o mundo, representam saídas e são mais importantes do que portas, janelas são mais libertárias por estarem constantemente abertas, ao contrário das portas, que quase sempre se fecham para o mundo.

Janelas são poéticas, porque janelas podem ser arqueadas, antigas, simpáticas, coloridas, pequenas, grandes e até floridas. Janelas sortudas, podem ter uma bela moça debruçada no seu parapeito, sim, porque janelas recebem muitos peitos, braços e abraços, Janelas são aberturas para o mundo por onde circulam os raios do sol e da lua, por onde escapam os olhares pra vida que corre lá fora.

Espero que você goste tanto de Janelas como eu gosto delas e, se quiser ser ainda muito mais legal comigo, deixe um comentário, ou faça ainda mais! Mande uma linda imagem de uma janela para que eu poste aqui no blog, quem sabe de você na sua janela?