A bem da verdade devo confessar que eu não fazia nada de excepcional para chamar a sua atenção. Quero dizer alguma momice, ou qualquer outra coisa estúpida ou fora do comum. Eu só interpretava o meu papel de passante, isto é, eu passava, a minha ação se resumia em passar por ela. Eu era um ser passante. Ela, por sua vez, era um ser ignorante, ou seja, sua única reação era a de não ter reação alguma, ela me ignorava total e cabalmente.
E assim o tempo foi passando, eu também fui passando, e ela também continuou me ignorando. Até que um belo dia, e devo dizer que este "belo dia" é só uma expressão de retórica, porque não lembro exatamente se era um dia bonito ou não, acho que ao menos não estava chovendo, ocorreu um fato inusitado durante uma dessas minhas passagens por ela - que até então me ignorava. Ela me olhou e disse: - Oi!
Devo confessar que fui pego totalmente de surpresa, eu poderia esperar tudo, que o céu caisse, que anoitecesse de dia, ou que aparecesse um dragão voando, por exemplo, mas aquele "oi" foi totalmente inesperado e desconcertante para mim. Primeiro porque ela finalmente notara a minha existência nesse mundo, segundo porque além de reconhecer a minha existência ela havia dirigido a palavra para mim, dissera "oi".
Fique entre perplexo e embasbacado, sem saber o que dizer, tentei puxar um ar do fundo do pulmão e dizer um "oi", que seria a resposta mais simples, mais direta, mas nem isso saiu. Após alguns breves instantes, desesperado, sem saber o que dizer, saí em disparada e nunca mais passei pela rua. Da moça da janela? Não sei dizer, aquela foi a última vez em que a vi na vida.