Wednesday, May 30, 2007

Os cinzas

O frio coloriu os dias de cinza. Não há uma uniformidade absoluta, com algum cuidado é possível verificar que há um gradiente, uma espécie de degrade, uma composição com vários tons de cinza. Cinzas menos cinza e cinzas mais chumbo, claros e escuros.

É difícil encontrar a alegria com esse tom mórbido, monótono, que me perdoem os "cinzófilos", mas cinza é cor de difícil digestão. Finjo que não é comigo, passo e me embaralho com esse fundo de cenário. Visto uma cor berrante, destoante, gritante, para contrastar, para registrar o meu protesto coloril, infantil...

O tempo ignora a minha blusa amarela e segue cinzento, carrancudo, rabugente. Foda-se o tempo! Fodam-se os cinzas!

Friday, May 04, 2007

Janelas

Translúcidos olhares
Visões daqui e além
Janelas que ao mundo
Se abrem e contém...

Thursday, April 05, 2007

Brincar de Governar

A notícia é que os controladores do tráfego aéreo do Rio de Janeiro entraram em estado de greve. Depois da primeira paralisação, da negociação estapafúrdia com o governo federal, dos mandos e desmandos do presidente, com os recuos nas posições iniciais precipitadas, os controladores voltaram ao status quo anterior.

Esse governo, fruto da sua incompetência administrativa, é useiro e veseiro nessa tática de avanços e recuos nas negociações. Primeiro o presidente amolece e manda soltar, depois se dá conta de que não deveria ter interferido e passa a bola para a aeronáutica. Esse ministro do planejamento é outro trapalhão de marca maior.

Há pouco num início de negociação com os policiais federais, diante de um compromisso assinado pelo anterior ministro da justiça, Thomaz Bastos, comprometendo-se a conceder dois aumentos de 30% para a categoria, afirmou que não reconhecia a autencidade do documento, que a direção do DPF devia ter sido enganada por um sósia do ministro - Fala sério!

Thursday, March 29, 2007

Números

Nossos governantes adoram falar em números que justifiquem a competência das suas governabilidades. Desde que estes sejam números favoráveis, é claro!, que outros números são jogados para debaixo do tapete, por inconvenientes.

Que a felicidade dos governados parece ser coisa matemática, numérica, e não algo que se possa auferir pelo sorriso de uma boca cheia de dentes. Dentro dessa avalanche de números que compõem o quadro das realizações governamentais, alguns digitos permanecem esquecidos.

Cito, para exemplificar, um dado que estima em 35% - trinta e cinco por cento - o percentual dos brasileiros infectados pelo bacilo de Koch, pelo vírus da tuberculose, ou sessenta e seis milhões e meio de pessoas.

Há pouco nosso IBGE manipulava os números do nosso crescimento para torná-los palatáveis ao gosto palaciano. Quer dizer, a questão não é crescer decentemente gerando os empregos necessários, mas obter um número que indique um crescimento - pífio - menos vergonhoso.

Viva o dia do circo!

Sunday, January 28, 2007

Meu ver o mundo

Luto diariamente, luto constantemente para obter um olhar diferente sobre o mundo, para vê-lo numa perspectiva mais otimista, mais alegre, mais romântica, para vê-lo como um mundo melhor. Quero enganar os meus olhos? Estarei sendo otimista demais, sonhador demais?

Talvez, o nosso olhar não deva ser influenciado pelo nosso coração, talvez eu deva deixar que o processo mental, seja o normal, nada demais. Nem de menos. Qual a vantagem de querer modificar uma realidade que se apresenta cruel aos meus olhos?

Isso tem a ver um pouco com essa minha teima, de insistir em manter um certo olhar poético sobre a vida, de querer ou pretender romancear as situações, de ser um verdadeiro sonhador. E não são poucas as vezes em que me dou mal pela atitude.

Volta e meia preciso acordar de um desses devaneios de infinita beleza para a realidade. E, triste, volto, nessa volta para a realidade...

Friday, January 19, 2007

Compensações

Depois de um certo tempo o fazer leva a prática, dizem que "a prática leva a perfeição", eu sou daqueles que acreditam que isso não se aplica a tudo. Os casamentos é um exemplo típico e acabado que normalmente contraria a frase, ou não?

Casamentos tendem a piorar com o tempo. Ah, mas eu conheço... Tá bem! Tá bem! Eu sei que a dona Josenilda e o seu Antenor já estão casados e em perfeita harmonia há 43 anos. Eles são a exceção que só confirma a regra. A regra é que a maioria dos casamentos termina em descasamento, ou em monotonia.

Isso, por que tem muita gente boa que se diz casada só por viverem juntos. Questão de opção, ou às vezes, da falta dela. É bom deixar claro que sempre gosto de falar em tese, não fica bem, nem é recomendável apontar o dedo e riste para o nariz do próximo, mesmo porque ninguém é perfeito em tudo...

É uma pena que assim seja, não devia, talvez os que defendem que o homem - lato senso - não foi criado para a monogamia estejam corretos. Certamente essa tese não será muito bem aceita por acha que a beleza não deve ser o critério, ou a juventude. Mas a feiúra, ou a velhice, trazem outras compensações. Quais? Não sei... vou pensar no caso e depois respondo...

Monday, January 15, 2007

Louvação!

Louvação é o título de uma bela composição musical da autoria de Gilberto Gil e Torquato Neto. A letra toda é muito bonita, você não conhece? Confira no Terra - Letras a totalidade da letra. Cantada pela saudosa e insubstituível Elis Regina, foi um dos grandes sucessos - que no caso de Elis é pleonasmo! - da sua carreira.

Um trecho da letra diz "Louvando o que bem merece / Deixo o que é ruim de lado..." E esse parece ser um dos nossos constantes problemas, um dos problemas nacionais. Aqui tudo vira ídolo com muita facilidade. Louva-se em demasia tudo e todos, louva-se com facilidade, louva-se irresponsavelmente; criamos uma verdadeira fábrica de ídolos, fruto de uma idolatria fácil e gratuita.

Nossa memória curta perde parâmetros e, na maioria dos casos, nem os tem! Há pouco vi um resultado de uma pesquisa que apontava o senhor Luiz Inácio como o "maior presidente que esse país já teve" (sic - sic). É preciso ser duplamente supérfluo para emitir uma opinião como essa, i.e., não conhecer nem um, e muito menos os outros que o antecederam.

Agora há pouco cruza o mundo o caso (ou escândalo?) de uma modelo e apresentadora cujo maior mérito foi ter se relacionado com a pessoa certa, com a fama na medida certa - truque já usado por uma apresentadora de programas infantis, e por outra de um canal menor. Até pela repetência pode se constatar que aqui "cola fácil" esse truque.

Sigamos o conselho sábio da letra da bela música: "Louvemos quem bem merece!"

Monday, January 01, 2007

Quando o mais é menos

O ano pode ser novo, eu fico mais velho. Comemora-se para não perder as companhias. Todo mundo pula, você pula. Todo mundo grita, você grita. Você pula e grita feito cabrita e não resolve nada, vai ficar mais velho, queira ou não ficar. Mas o ano é novo, dizem, e daí? Eu não "ennoveço" com ele, eu envelheço, mais um ano, você vai dizer que é pouco, mas essa pilha que eu tenho foi feita assim, amontoando um por um, não houvesse o um, não haveria a pilha amontoada de anos.

Sauda-se a chegada do novo ano, como é costume - e não sei o porquê? - com estardalhaço, com espalhafato, com espetáculos pirotécnicos variados - e pirofoguetórios e pirobarulhentos também. O povo sempre esperançoso, diz: "Dessa vez a coisa vai!" No fundo, todos sabem que o mundo nào vai, mas vale pela torcida. Eu não torço, nem espicho, nem estico, nem entorto. Acho que não adianta, que ano novo nasce para ficar velho, como todos os velhos passados e já arquivados - em que as coisas não foram!

Não viva o que passou, nem espere para viver no que entrou, viva o aqui e agora, que viver só se vive no presente. Feliz dia novo em todos os dias da sua vida!